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“Mitos & Ícones” – Releitura de 11 imagens icônicas da história da arte.
Mostra Manifesto para Fundação do MESB – 1º Museu de Ecoart Sustentável do Brasil.

A obra do artista plástico Thiago Cóstackz está desde o início de sua carreira diretamente ligada ao ativismo ambiental e social. Os acontecimentos históricos, as mitologias, o estudo dos símbolos e arquétipos sempre foram base para sua criação conceitual. Foi baseada nesta fascinação que os “mitos” e os “ícones” exercem sobre o artista, que ele escolheu 11 imagens clássicas da arte antiga, com até 5 mil anos de idade, para serem relidas, dentro de uma perspectiva contemporânea, em fotos performáticas de body art que deram origem a exposição “Mitos e Ícones”. A mostra foi um manifesto artístico pela  pela fundação do MESB – Museu de EcoArt Sustentável do Brasil recebeu mais 100 mil pessoas em apenas 40 dias de exposição nas cidades de São Paulo e Curitiba.

Para encarnarem este mitos da arte o artistas convidou celebridades nacionalmente conhecidas para protagonizarem estas fotos, entre elas: Carolina Dieckmann, a modelo Fernanda Tavares, Isabela Fiorentino, Paulo Zulo, a Princesa Paola de Orleans e Bragança, Carlos Casagrande, Dalton Vigh, Laura Wie, Jaqueline Dalabona e Nany People. Todas as obras foram produzidas utilizando materiais reciclados e certificados, como tecidos ecológicos a base de pet, tintas corporais a base de água, perucas feitas com polímeros de PET, e cenários produzidos com alta tecnologia que utilizou como base materiais de descarte de obras e lixo.

Confira as obras da exposição:

“O Nascimento de Vênus” de Sandro Botticelli 1483 – Modelo: Fernanda Tavares

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O Nascimento de Vênus é uma pintura de Sandro Botticelli feita em 1483. A obra está exposta na Galleria Degli Uffizi, em Florença na Itália. Consiste de têmpera sobre tela e mede 172,5 cm de altura por 278,5 cm de largura. É uma das pinturas mais conhecidas do renascimento italiano e de toda história da pintura.

A temática desta obra simbolo do Renascimento evoca o até então recente Humanismo, mostra uma mulher surgindo, nascendo para uma nova consciência, um novo pensamento, “o renascimento de uma cultura”, da idade média (trevas) para a idade do pensamento lógico. Aqui Deus não é mais o centro do universo e sim o homem (Antropocentrismo). Na interferência do artista plástico Thiago Cóstackz esta mulher representa todas as mulheres, em especial as do norte-nordeste do Brasil nascendo para uma nova era de inclusão, para uma nova consciência, defendendo o empoderamento feminino em todas as áreas. O artista evoca a “brasilidade” para construir uma “Vênus brasileira” de pele mestiça e com uma paisagem do Rio Grande do Norte como pano de fundo.

“Diana Caçadora do Louvre”, Leocares, 325 a.C – Modelo: Isabela Fiorentino

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Na Grécia antiga, Ártemis era uma deusa ligada inicialmente à proteção da vida selvagem e à caça.  Irmã gêmea de Apolo; mais tarde, associou-se também à luz da lua e à magia. A estátua, que possui o tamanho levemente maior que o natural, é uma cópia romana de um original grego que se perdeu no tempo, a obra é atribuída a Leocares, 325 a.C.

Na obra grega Diana aparece passando a sua mágica mão sobre a cabeça de um veado; visando fazer uma conexão direta com um animal ameaçado de nosso tempo em uma releitura contemporânea, aqui Diana segura um frágil balão de ar no formato de uma onça pintada (felino mais ameaçado das Américas), sugerindo que a onça encontra-se tão ameaçada quanto este balão, que pode sumir no ar a qualquer momento. A modelo usa um vestido feito de fibra de “pet” reciclada simulando a vestimenta de mármore minuciosamente talhado na estatua. Se verificarmos bem veremos uma fusão entre “homem e animal”, pois ela “contamina-se” com a estampa do bicho, estabelecendo assim um patamar de igualdade entre todos os seres deste planeta. A foto de fundo é uma imagem da Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais ameaçados da Terra. “Oh! Diana protegei nossas matas e animais!”.

“Vênus de Milo” 130 a.C, Alexandros de Antióquia? – Modelo: Carolina Dieckmann

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A Vênus de Milo é uma famosa estátua grega. Ela representa Afrodite, a deusa grega do amor e da beleza, tendo ficado, no entanto mais conhecida pelo seu nome romano: Vênus. É uma escultura em mármore com 203 cm de altura, que data de cerca de 130 a.C, e que se pensa ser obra de Alexandros de Antióquia.

O animal que aparece na foto é uma “Arara Juba”, é um símbolo nacional no Brasil, já que carrega em sua estampa as cores da bandeira brasileira. É um pássaro severamente ameaçado de extinção, estima-se que existam hoje menos de 300 indivíduos no meio natural. O contrabando de espécimes e a rápida diminuição das florestas têm sido a grande causa de sua extinção. A Vênus de Milo é uma das estatuas mais conhecidas, seja por desenhos animados ou filmes; O que pouca gente sabe é que a estatua não foi esculpida sem os braços, pelo contrário eles acompanharam a estatua até sua trágica perda em um acidente no séc. XIX. Na interferência artística o artista pintou os braços da Vênus de “verde-floresta”, exatamente onde se quebraram os membros da estátua, afirmando que as florestas brasileiras encontram-se “tão ameaçadas” quanto os braços da Vênus. Ela veste um tecido feito de pet reciclado que simula o mármore. A “Ararajuba” que pousa suavemente sobre seu ombro esquerdo parece implorar a deusa pela sobrevivência de seu habitat.

“A Liberdade Guiando o povo”, Eugène Delacroix 1830 – Modelo: Nany People

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A Liberdade Guiando o Povo (em francês: La Liberté guidant le peuple) é uma pintura de Eugène Delacroix em comemoração à Revolução de Julho de 1830, com a queda de Carlos X. Uma mulher representando a Liberdade guia o povo por cima dos corpos dos derrotados, levando a bandeira tricolor da Revolução Francesa em uma mão e brandindo um mosquete com baioneta na outra. Ela anda sobre os escombros da Bastilha, ela representa a deusa da liberdade. A Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.

A deusa da Liberdade nesta releitura do artista é a atriz transexual Nany People que representa esta cena tão ativista. Não adiantaria falar nesta mostra sobre os direitos dos animais se não pudéssemos também falar de direitos humanos. Não há como existir luta por igualdade entre todos os seres deste planeta sem falar na luta por igualdade e respeito com as diversidades sexuais, um dos direitos humanos básicos mais discutidos hoje. Liberte, Egalité et Fraternité! Aqui ela não anda sob os escombros da Bastilha como na obra de Delacroix, mas sim, sobre uma cidade moderna, com edifícios e prédios. Ela passa sobre “os restos” da união entre “Política + religião”, união que é hoje o maior entrave nas discussões no congresso brasileiro sobre qualquer lei que garanta igualdade e cidadania aos LGBTT.

“Atena Pacifica” séc. V a.C autor desconhecido – Modelo: Miss Brasil 2009 Larissa Costa

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Atena era a deusa grega da sabedoria, do ofício, da inteligência e da guerra justa. Há também quem grafe o seu nome como Palas Atená. Freqüentemente é associada a um escudo de guerra, à coruja da sabedoria ou à oliveira. Nesta obra de autor desconhecido, a deusa espera pacientemente por algo que não sabemos, esta estatua foi apelidada de “Atena pacifica”. A Arara-Azul que serve como parte de inspiração da obra está atualmente ameaçada de extinção, sendo as principais causas à caça, o comércio clandestino, no qual as aves são capturadas enquanto filhotes, ainda no ninho e a degradação em seu habitat natural através da destruição atrópica. Já os sapos da especie Dendrobayidae, juntamente com todos os anfíbios do mundo encontram hoje severamente ameaçados; Apesar de possuirem um veneno letal, seus maiores inimigos hoje são vírus misteriosos, o aumento da temperatura do planeta e a diminuição de seu habitat. O aquecimento global e irregularidade das chuvas tem prejudicado a formação de possas de água, vitais para sua reprodução.

Como deusa da sabedoria Atena tinha como um dos seus símbolos a coruja, visando agregar valores ambientais a obra grega, a coruja foi substituída por uma arara azul e no rosto da deusa foi pintada a estampa de um Dendrobates azureus, um sapo azul fosforescente da Amazônia, induzindo ao observador o pensamento de que é sábio, honesto e justo preservar estes animais severamente ameaçados. As vestimentas da deusa são também confeccionadas com material reciclado. O seu Elmo foi elaborado com cristais de Murano certificados

“Davi” de Michelangelo, 1504 – Modelo: Paulo Zulo

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Davi de Michelangelo feita em 1504, o trabalho retrata o herói bíblico com realismo anatômico impressionante, sendo considerada uma das mais importantes obras do Renascimento e do próprio autor. Michelangelo é considerado nesta obra uma espécie de inovador, pois retrata a personagem não após a batalha contra, mas no momento imediatamente anterior a ela, quando David está apenas se preparando para enfrentar uma força que todos julgavam ser impossível de derrotar, marcando assim a era do homem que pensa, o homem lógico, “homem-centro do universo”. Atualmente encontra-se na Galleria dell’Accademia, em Florença.

O artista utilizou para compor esta intervenção o protesto ao uso de peles de animais. O artista quis ainda estabelecer um paralelo de igualdade através da fusão entre homens e animais. Ele rompe ainda com que se espera da arte tradicional, apesar do Davi estar na mesma posição da obra original, ela aqui parece ter sido transportada para uma outra dimensão, ao ar livre em conexão com o natural, em meio a nuvens.

“Iduna, Thor e as Maçãs da Imortalidade”, J. Penrose, 1890 – Modelos: Laura Wie e Dalton Vigh

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Iduna presenteia Thor com a imortalidade na pintura de J. Penrose, datada de 1890. Iduna era a deusa nórdica da imortalidade, arte e da poesia. De acordo com o edda em prosa ela era a guardiã do pomar sagrado cujas maçãs douradas permitiam aos Aesir restaurarem a sua juventude pela eternidade.

Na obra original de J. Penrose a Deusa Iduna detentora da imortalidade presenteia Thor com uma de suas maçãs com a promessa de vida eterna. Na interferência artística de Thiago Cóstackz, ao invés de Thor a deusa presenteia com uma de suas maçãs um “homem floresta”, que sai do chão como uma árvore prestes a crescer, mas ao invés disso ele humaniza-se e torna-se uma espécie de homo-Vegetabilia (homem vegetal), ele emerge e estende a sua mão para receber uma das maçãs sagradas de Iduna, em uma tentativa desesperada de conseguir que as florestas permaneçam vivas amanhã. Uma suplica pelo direito a imortalidade, como um grito, “por favor, deixe-me permanecer vivo, continuar aqui”.

Nefertiti Adorando Aton 1340 a.C – Modelo: Jacqueline Dalabona

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Nefertiti Foi uma rainha da XVIII dinastia do Antigo Egito, esposa principal Faraó Akhenaton (o protegido de Aton). Nefertiti significa “a bela chegou”, ocupou lugar de destaque na reforma religiosa realizada por ela e seu marido. O culto colocava fim ao politeísmo no Egito e instituía o culto único ao “Disco solar Aton”. Para alguns místicos e intusiastas do astronautas do passado, uma ligação com com seres alienígenas. O mural que inspirou esta releitura é na verdade uma das várias representações no qual Nefertiti e Akhenaton aparecem adorando Aton. Por muito tempo, esta forma alongada que os corpos da obra possuem foi defendida como sendo parte de uma anomalia genética carregada pela família do faraó; no entanto hoje acredita-se bem mais que isto fizesse parte de um estilo de arte adotado pela nobreza naquele período.

Na interferência o artista faz uma ponte entre o aquecimento global e a magia no antigo Egito. A modelo foi iluminada com tinta especial e usa um vestido artesanal de linho natural tingido com canela e especiarias, como era de costume no antigo Egito. Ela aparece adorando o Deus Solar Aton? Ou o um disco voador? O artista visa questionar ainda se uma nave alienígena posasse na terra o que os esses seres achariam de nós? Que realmente somos superiores aos outros seres deste planeta?

“Colosso de Rodes”, Carés de Lindos, 280 a.C.  – Modelo: Carlos Casagrande

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O Colosso de Rodes foi uma estátua de Hélios, deus grego do sol, construída entre 292ª a.C e 280 a.C pelo escultor Carés de Lindos. A estátua tinha trinta metros de altura, 70 toneladas e era feita de bronze. Tornou-se uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Uma embarcação que chegasse à ilha grega de Rodes, no Egeu por volta de 280 a.C. passaria obrigatoriamente sob as pernas da estátua de Hélios, protetor do lugar. A estátua ficou em pé por apenas 55 anos, quando um terremoto atirou-a para o fundo da baía de Rodes. A foto faz relação com o Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) é um primata encontrado originariamente na Mata Atlântica, no sudeste do Brasil ele encontra-se em perigo de extinção. A diminuição de seu habitat e o constante tráfico ilegal de animais silvestres fazem desta espécie um símbolo nacional da luta contra a extinção.

O Colosso de Rodes na antiguidade clássica deveria mostra-se grandioso e imponente a todos os que o admiravam. Nesta intervenção o artista reconstrói uma das sete maravilhas do mundo antigo inteiramente de material reciclado. As bases, o piso, a pintura corporal a base de água e a vestimenta que faz referência direta ao Mico-leão-dourado são todos confeccionados com matéria prima proveniente de madeira certificadas, tecido de pele falsa a base de “pet” e “porcelanato” ecológico.

“Elizabeth I – A Rainha Virgem”, Marcus Gheeraerts, 1592 – Modelo: Mariana Weickert

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Seu reinado é conhecido por período Elisabetano ou ainda Era Dourada. Rainha durante o renascimento inglês, ela era uma amante e incentivadora das artes, seu reinado foi um período de ascensão, marcado pelos primeiros passos na fundação daquilo que seria o Império Britânico.A intenção desta interferência foi reproduzir toda  atmosfera de grandiosidade do período elisabetano de maneira ecologicamente correta. Tudo na foto é sustentável, o piso, o tecido e jóias do vestido da rainha que são feitos de Pet. A intenção é questionar se já não temos tecnologia suficiente para dispor de uma moda mais consciente e ecológica. Atualmente os tecidos híbridos são confortáveis e sustentáveis. Politereftalato de etileno, ou PET é um polímero termoplástico. Pode ser reciclado, pelo processo de termoreação, ou a quente, onde a determinada temperatura, o polímero fica líquido, podendo então ser moldado, extrusado, comprimido ou em outra forma. Três milhões de garrafas PET são jogadas fora diariamente no Brasil, o que corresponde à cerca 30 mil toneladas, apenas 30% disto é reciclado. Se reaproveitado o pet pode virar móveis, tecidos especiais, tecidos ecológicos, matéria prima na indústria.

O último retrato da França, Élisabeth Vigée-Le Brun, 1779 – Modelo: Princesa Paola de Orleans e Bragança

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Maria Antonieta de Áustria por Élisabeth Vigée-Le Brun foi realizado em 1779, arquiduquesa da Áustria e rainha consorte da França de 1774 até a Revolução Francesa, em 1789. Na intervenção do artista a rainha está posicionada sobre a última parede que restou de um palácio, ao longe um crepúsculo, mostrando um fim de uma era, de um ciclo e o começo da noite com seus mistérios e incertezas. O artista mostra a rainha vestida com um vestido que apesar de ser feito de PET, mostra a atmosfera de grandiosidade do período pré-revolucionário da França, pouco antes do período que marca a queda do absolutismo monárquico no país. A intenção principal do artista foi convidar uma descendente direta da Rainha Maria Antonietta, no caso a Princesa Paola, para representar a rainha em seus anos áureos de uma maneira ecologicamente correta. Tudo na foto é sustentável, o piso, o tecido e jóias do vestido da rainha que são feitos de Pet. A intenção é questionar se já não temos tecnologia suficiente para dispor de uma moda mais consciente e ecológica. Atualmente os tecidos híbridos são confortáveis e sustentáveis.

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*O museu que deveria ser sediado no Rio Grande do Norte, mas infelizmente por falta de apoio politico local e nacional o projeto encontra-se parado.