“Silêncio, um bico rompe o barulho e quebra o ovo. Salta dele uma estranha criatura, biologia desconhecida, olhos tortos, cor diferente, penugem estranha. Sexo indefinido, sua única asa é torta, não abre. Sentirá ele o beijo do vento em seu rosto? Não sei se nasce livre, mas certamente já ameaçado. Olhe para as altas torres e escondido entre o lucro e o tédio: nasce um pássaro feio.

Parem os rituais, garanto-lhes que um pássaro nasceu! Não no céu, tampouco no chão, veio ao mundo numa árvore, raízes cimentadas, braços limitados por lâminas assassinas. Solitário e inseguro, sua voz não é bonita, mas ainda assim é uma voz. Gostem ou não, garanto-lhes que criaturas assim existiram e outras sempre existirão. Ele rompe com os padrões, o nojo, as leis, os dogmas e o ódio. Ninguém o percebe, ele é feio… Mas é realmente um pássaro. ”

Trecho do livro “O Pássaro de Fogo” de Thiago Cóstackz

 

 

 

*poema e performance inspirados na lenda de Yorixiriamori, um deus da mitologia Ianomâmi, presente no mito da árvore cantante. Um deus estranho que encantava as mulheres pelo seu belo canto, o que despertou a inveja dos homens, que tentaram assassina-lo. Yorishiriamori então adquiriu a forma de um pássaro de fogo dourado e fugiu. Com ele a árvore cantante foi-se da Terra para sempre.

 

Obras: “Yorixiriamori – O Pássaro feio”
Performance: Thiago Cóstackz
Foto: Lienio Medeiros e Creative Images.